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23 de Abril de 2024

Gestão é o remédio que a saúde precisa

Desafios brasileiros.

há 9 anos

Criado em 1988, o Sistema Único de Saúde tinha um objetivo claro: universalizar o atendimento aos brasileiros, que, em troca, pagam altos impostos. Como é de conhecimento público, não foi isso o que aconteceu. Passados 22 anos, usuários enfrentam filas e esperam meses e até anos para conseguir realizar uma cirurgia eletiva - os procedimentos não emergenciais. Seria ainda pior se parte da população - 26,3% - não tivesse abandonado o SUS, pagando um valor extra por planos privados de saúde.

Especialistas são unânimes quanto ao remédio que poderia curar o SUS: mais dinheiro. Nas contas de Ligia Giovanella, pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, ligada à Fundação Oswaldo Cruz, o Brasil precisaria ao menos dobrar os recursos destinados ao setor. Mas não é fácil, uma vez que boa parte do Orçamento federal é comprometida com outras despesas. E não é tudo. Além de mais dinheiro, o SUS precisa de mais gestão. "É necessário um reordenamento do destino dos atuais gastos, priorizando o investimento em setores que dinamizem o setor", diz Lígia Bahia, professora de Saúde Pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O desejado choque de gestão deveria começar pela própria administração do sistema, defendem especialistas. "Os gestores do SUS são, em sua maioria, indicados por motivos políticos, mas a saúde é uma área que requer conhecimento técnico amplo em todas as etapas: planejamento, execução e avaliação dos resultados" , diz Newton Lemos, consultor em Serviços de Saúde da Organização Mundial da Saúde. "Não é uma coisa que qualquer profissional – que não de carreira – pode fazer".

Outro alvo de mudanças seria o programa Saúde da Família, que fornece atendimento básico à população previamente inscrita. Atualmente, apenas 50% das famílias brasileiras fazem parte do programa - o ideal seriam 80%. Atender mais gente demandaria mais médicos, estrutura e, portanto, recursos? Óbvio. Contudo, nas contas dos especialistas, o investimento seria compensado pela economia advinda dos frutos do atendimento preventivo. Por exemplo: ao invés de um cidadão procurar um hospital quando já se encontra doente, o que demanda um tratamento caro, ele receberia cuidados permanentes e prévios.

"Estender o acesso ao médico da família é uma estratégia importante", afirma Gastão Wagner de Souza, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-secretário executivo do Ministério da Saúde. "Cidadãos inscritos nesse programa recebem atendimento clínico, o que diminui a busca desnecessária por especialistas e a realização de exames. Você gasta menos, com resultados melhores".

Por fim, nunca é demais lembrar: em matéria de dinheiro público, é preciso endurecer a fiscalização dos gastos. "Precisamos fortalecer os conselhos de saúde, que exercem tal controle", completa Maria Fátima de Souza, coordenadora do Núcleo de Estudos em Saúde Pública da Universidade de Brasília (UnB).

Curar o SUS deverá ser uma tarefa cada vez mais importante nos próximos anos. Isso porque é provável que parte da classe média, que atualmente, conta com planos privados, migre para o sistema público. Segundo projeção realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e pelo Procon, se mantidos os atuais níveis de reajustes de mensalidades nos próximos 30 anos, as tarifas deverão subir mais de 120% acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). É verdade que a maior parte dos planos são custeados parcialmente pelas empresas. Contudo, é provável que aumentos como os estimados pelo Idec/Procon não sejam assimiláveis nem mesmo pelas companhias.

Há algumas alternativas ao sistema, menos uma: a criação de mais impostos para alimentar a saúde - a exemplo do que ocorreu no passado com a CPMF. "No curto prazo, os políticos que só pensam em seu mandato encontram resultados com a medida. Mas, no médio e longo prazos, é preciso lembrar que novos tributos diminuem o crescimento econômico", explica Marcos Bosi Ferraz, diretor do Centro Paulista de Economia da Saúde, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Autora: Natália Cuminale.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saúde/gestaoeo-remedio-queasaude-precisa

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/gestao-e-o-remedio-que-a-saude-precisa/157708228

4 Comentários

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Fernanda, ótimo artigo, parabéns primeiramente, Gestão é essencial quando falamos em Dinheiro público, junto com ela, temos a fiscalização que precisa ser continua, como você citou em seu artigo, várias pessoas irão migrar para o sistema público de saúde, isto é péssimo, creio que a ANS poderia ter um papel melhor definido na regulamentação dos planos de saúde, não creio que a gestão da própria ANS permita que os planos atuem livremente em um mercado tão complicado como este.

Assevero que a melhor saída para o próprio sus seria ter menos brasileiros aderindo a ele, e partindo para o plano privado. continuar lendo

O ideal para o SUS é que ele cada vez mais as pessoas façam parte dele, quanto mais gente aderida e cobrando, melhor.
Com relação ao financiamento, de fato é necessário aumentá-lo. Melhorando a gestão já seria possível melhor, mas ainda não seria suficiente.
Sem um imposto específico para a Saúde, como aumentar o recurso para ela?
Só consigo pensar em auditoria da diívida pública para evitar que mais de 50% da receita do orçamento da União migre para o pagamento da dívida e juros ao invés de ir para saúde, educação e segurança.
Um sistema de saúde privado é extremamente prejudicial. Vide EUA, que é o sistema mais cara e menos eficiente e onde tem a maior parcela da população sem acesso à saúde. continuar lendo

Hoje quem faz a gestão do SUS é o Judiciário!
O Gestor é apenas responsabilizado e não tem autonomia para tomada de decisão a não ser a única decisão que lhe cabe no momento: "Obedeço a ordem judicial ou não?" Os dois geram consequências terríveis para ele.
Do jeito que a "coisa" está se desenrolando, somente maluco irá aceitas ser gestor da Saúde. continuar lendo

O problema no Sistema de Saúde no Brasil, não é de recursos e sim de gestão. Os Ministros, Secretários Estaduais e Municipais são indicados por capacidade política e não técnica. continuar lendo